Por Janderson Ribeiro
A oportunidade de parar pode ser muito benéfica para a reflexão. Muitas vezes, nessas paradas, a imaginação fala mais alto e nos inspira parábolas. Compartilho uma com vocês:
Era uma tarde de domingo quando alguns amigos voltavam de uma peça teatral no centro de São Paulo. Num determinado momento ao passarem pelas proximidades do Banco do Brasil ouviam ruídos que saiam de dentro de uma caçamba de lixo. O ruído era assustador. Alguns deles chegaram a tremer de medo, afinal não sabiam o que se passava ali dentro. No entanto, os rapazes continuavam a se aproximar cada vez mais do local. Zé Luís, um dos muitos que estava no grupo, apelou aos colegas para que não se aproximassem da caçamba, afinal ele temia encontrar dentro dela muitos ratos. O jovem disse aos seus companheiros que tinha bastante medo de roedores. Antônio Carlos, sendo o mais corajoso e o responsável do grupo, reuniu-os e por alguns minutos discutiram a possibilidade de irem até ao local para saberem o que se passava.
Foram quase dez minutos de muita conversa e negociações. Pedro Paulo levantou-se e prontificou-se, dizendo que iria checar o ambiente escuro e fétido, afinal, tratava-se de uma caçamba de lixo. Ao chegar ao local, Pedro Paulo assustou-se com o que viu, então ele não se conteve, caiu em choro ao deparar-se com a cena que muito lhe deixou desestabilizado. Havia uma criança de aproximadamente cinco anos de idade. Seu estado era crítico e parecia que há dias ela não comia nem tomava banho. Então, os amigos resolveram levá-la consigo para darem de comer e tomar banho. O mais lindo de tudo foi que esta garotinha passou a ter um nome e um lar.
A vida está à nossa volta gritando. Quantas vezes nos fazemos de surdos e não ouvimos essa pobre que nos clama. Incomoda-me ver, por exemplo, casais que se decidem por adotar, no entanto, o seu desejo é por adotar um cachorro, um gato, um animalzinho qualquer. Não sou contra os animais, ao contrário. Todavia, no contexto no qual vivemos é assombroso que a vida humana seja equiparada ou até menosprezada diante da vida de um animal.
Talvez a correria do mundo moderno ou a decepção com o ser humano tenha feito que nos esqueçamos do valor da dignidade humana e estejamos dando preferência a outros tipos de relações, inclusive as artificiais, mas não podemos perder a esperança no ser humano. Continuamos a ser homens e mulheres necessitados, como a menina da parábola. Sejamos esses amigos da vida, que são capazes de restaurar a dignidade, concedendo um nome e um lar, símbolos concretos de nossa humanidade, pois quando temos um nome, nos identificamos, possuímos uma identidade e somos reconhecidos como tal.