O LIVRO DO DEUTERONÔMIO

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Pe. Nilo Luza

Todo ano para o mês de setembro, também conhecido Mês da Bíblia, a Conferência dos Bispos do Brasil propõe um livro ou um texto bíblico para ser estudado, refletido e rezado ao longo do mês. Este ano é indicado o livro do Deuteronômio. Tem como tema uma bonita frase do próprio livro: “Abra a mão em favor do seu irmão” (Deuteronômio 15,11). Deuteronômio deriva de uma palavra grega e significa “segunda lei”.

O Deuteronômio é o último dos cinco livros do Pentateuco e ao mesmo tempo faz ligação com os escritos históricos ou História Deuteronomista. É formado por diversos discursos colocados na boca de Moisés, espécie de testamento espiritual pronunciado antes de sua morte. O livro é fruto de longo e complexo processo redacional.

Na parte mais antiga do livro (capítulos 12-26), encontramos a memória do êxodo e teve sua origem nas leis sociais (orais e escritas) do tribalismo. Esse trabalho teria sido organizado no Reino do Norte (Israel), durante o século 8º AC. Com a destruição da Samaria (722), muitos nortistas, sacerdotes e levitas migraram para o Reino do Sul (Judá) e levaram junto a cópia desse livro. Durante a restauração do templo de Jerusalém, o sacerdote Helcias encontra (por volta de 620) o “livro da lei”. Esse “livro da lei” é considerado o primeiro esboço do Deuteronômio.

No Reino do Sul (Judá), o livro passou por várias releituras e mudanças ao longo dos séculos seguintes. A primeira reforma foi feita pelos levitas, que migraram do Norte, durante o reinado de Ezequias (716-701 AC). O culto a Javé passa a ser centralizado no templo de Jerusalém, juntamente com a centralização do poder e da riqueza.

Quase um século depois, o rei Josias (620-609 AC) retoma as reformas de Ezequias e as torna ainda mais duras. Persegue e destrói as outras divindades. Os escribas do rei revisaram o Código Deuteronômico (12-26), acrescentando alguns capítulos no início (5-11) e no fim (27-28).

Durante o exílio na Babilônia (587-538 AC), foi feita mais uma revisão do texto e foram feitos mais acréscimos, para confirmar que o exílio foi castigo de Javé, causado pelo rompimento da aliança por parte do povo, sobretudo dos governantes. Com isso, os levitas queriam animar e orientar o povo para voltar à lei de Javé.

Por fim, o livro passou por mais uma revisão ou releitura após o exílio babilônico, completando os 34 capítulos atuais. Os sacerdotes de Jerusalém estabeleceram Javé como único Deus do universo, proibindo qualquer outro tipo de imagens. O povo de Israel é reconhecido como povo eleito, povo santo e submetido à lei do puro e do impuro.

Como vimos, o caminho para chegar ao livro que temos hoje em nossa Bíblia passou por várias mudanças, acréscimos e releituras. Por esses motivos, temos dentro dele, repetições, paralelos e até contradições. O livro convida à conversão e à unidade do povo de Israel, o povo eleito. Reconhece Moisés como patrono da Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia).

O livro, formado por vários discursos colocados na boca de Moisés, traz leis muito bonitas que protegem as pessoas mais empobrecidas e fragilizadas (órfãos, viúvas e migrantes), mas também apresenta textos que incentivam à violência e à morte. Textos que oprimem e escravizam, principalmente mulheres e crianças. São marcas do longo processo redacional. Por isso, ao ler este livro e outros textos bíblicos, é importante levar em conta o contexto em que o texto foi escrito e a intenção dos autores que está por detrás.    Com a morte de Moisés, chega ao fim o período fundacional da história de Israel. Sem dúvida, Moisés muito contribuiu para o nascimento do povo de Israel, acompanhando-o desde a saída do Egito até a proximidade da entrada na Terra Prometida. A libertação é obra de Deus, ele libertou o povo escravo no Egito, acompanhou-o pelo deserto e lhe deu uma terra. A aliança mostra o povo de Israel se descobrindo como povo escolhido por Deus, vendo os sinais da presença e da ação de Deus no passado e no presente.

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