A Arte e a Comunicação existem por razões muito semelhantes: a necessidade de diálogo. Nós as distinguimos por razões didáticas, mas na prática elas conseguem conviver relativamente bem. Não é incomum, por exemplo, a existência de unidades universitárias que contam, num mesmo prédio, com os cursos de Artes e de Comunicação. É o caso da ECA, na USP, que é a Escola de Comunicação e Artes, ou o Instituto de Artes da Unicamp, em que estão conjugados num mesmo espaço os cursos de Artes Visuais, Cênicas, Dança e as várias áreas da produção audiovisual e multimídia. Estes são apenas dois exemplos no âmbito acadêmico. Numa observação prática, contudo, veremos o quanto Arte e Comunicação andam juntas.
Andarem juntas, ocuparem um mesmo espaço físico numa instituição, é a parte, talvez, mais fácil. O grande desafio para ambas as áreas, na promoção de diálogos, é como poderão defender o direito à Vida, ou como irão tratar das questões práticas da vida social, ou como irão promover o bem comum. Uma Comunicação ética é adesão a favor da Verdade e da democracia; ao contrário, uma comunicação marcada por meias verdades, ou pela invenção de fatos, rompe com o diálogo, faz-nos perder o foco de lutas essenciais. A Arte, neste caso, poderá nos ajudar a elucidar as tais meia verdades, desde que não podada, feriada ou diminuída. O fato é: não há Arte libertária, se não há sociedade libertária; tampouco existirá neste contexto Comunicação plena para a construção de um estado libertário.
No campo das Artes, a tecnologia digital propôs um repensar a própria condição da Arte e do fazer artístico. De modo quase emaranhado, Arte e Comunicação, na especificidade da chamada Comunicação de Massa, fundiram-se enquanto modos de conhecimento diante do universo digital-tecnológico. Esta condição de impacto é demonstrada pela História da Arte em outros momentos como medida essencial para a manutenção da própria Arte. Mais uma vez aqui destacamos que Arte e Comunicação, e acrescentamos ainda o desenvolvimento tecnológico, podem ou vivem uma experiência de partilha, e que isto pode ser muito saudável.
Há uma interessante constatação de alguns intelectuais que propõem que o uso dos recursos tecnológicos para a realização artística é um desvio. Ou seja, a arte ao apropriar-se do aparato tecnológico desenvolvido para o atendimento dos setores industriais ou de bens de consumo, refaz um percurso, ou melhor, propõe um caminho diverso, ao dimensionar a estes objetos marcas e funções antes não pensadas. Está nisto o milagre da multiplicação de saberes dialogados.
Seja qual for o caminho a seguir, seja qual for o modelo de entendimento sobre Arte e Comunicação, não devemos abrir mão da base que move estas duas perspectivas de conhecimento, que é a promoção de diálogos, que é (ou deveria ser) o fim e o princípio fundante destes meios de construção de bem estar social.
Prof. Elinaldo Meira