A imagem ocupa um lugar significativo na cultura. Está presente no cotidiano em uma grande diversidade de suportes e materiais, que envolvem a mídia impressa, a publicidade, a sinalização e as mensagens sociais de toda ordem. Por vezes, a imagem aparece na mistura de tipografia, ilustração, cor, signos, símbolos, tamanhos, contrastes e tantos outros elementos criativos, que a transformam em linguagem capaz de criar mensagens e estruturar informações e ainda, podem sequestrar o olhar até do espectador distraído. Em outros processos criativo-midiáticos como nas artes visuais, publicidade, ambiente digital, por exemplo, também percebemos a força que se dá entre imagem e comunicação.
Não queremos negar o impacto das imagens nem tão pouco supervalorizá-las, mas também não é nossa intenção afirmar que elas possuam forças de sedução tão implacáveis ao ponto de render o espectador e torná-lo passivo. Entendemos que o modelo que descrevia a comunicação como modo unidirecional, que considerava o receptor passivo ou uma “massa”, manipulável ou de modelar, já está superado. Portanto, receber imagens, especialmente nos ambientes de rede social, exige atitude crítica e investigativa.
Todavia, descrever o uso da imagem na comunicação, abarcaria um campo demasiado amplo, e nesse curto espaço interessa contribuir, de forma modesta, para que haja apenas um despertar do leitor sobre esses temas que envolvem a criatividade humana. Mas acima de tudo, o objetivo maior é valorizar nesta pastoral, o fato de ser Deus um grande comunicador, que utiliza abundantemente a imagem para falar e se relacionar conosco.
Deus se comunica através da imagem da criação, da natureza. No Salmo 19:1, o salmista diz: “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos”. O autor está simplesmente encantado, deslumbrado, maravilhado com a grandeza, o esplendor e a majestade de Deus expostos em sua criação. Numa linguagem poética, ele vê os dedos de Deus na criação, como um artista que deixa suas impressões digitais em cada uma das suas obras. Deus, deixa sinais de seu poder, da sua sabedoria, do seu bom gosto, da sua beleza, da sua criatividade, em toda imagem que cria. Perplexo com tanta comunicação, o salmista exclama: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade” (Salmo 8:1). Deus se comunica conosco através da imagem da criação, por isso, o apóstolo Paulo afirma: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Romanos 1:20). Contemplar, admirar, agradecer, cuidar e preservar a criação de Deus é a melhor resposta que deveríamos dar a essa maravilhosa e extraordinária comunicação.
Surpreendentemente, Deus quis ir ainda mais fundo em sua comunicação à humanidade através da imagem. Deus não pode ser visto: nenhum homem jamais viu a Deus, mas Ele desejou ser encontrado, ouvido, tocado com as mãos, por meio de Jesus. Ele torna visível o Pai. Daí a palavra de Jesus a Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14:9). Jesus é a revelação mais sublime, mais transparente e mais eloquente da pessoa do Pai. Evocando novamente o apóstolo Paulo, vamos ouvi-lo dizer que Jesus “é a imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15).
Há mais de 2000 anos, Deus se fez carne, tornou-se ser humano como nós, falou a nossa língua, pôde dizer-nos quem é o Pai, o que somos nós para Ele e qual é o projeto dele para nós. Para conhecer o Pai, portanto, é suficiente contemplar Cristo, observar o que Ele faz, o que diz, o que ensina, como se comporta, como ama, a quem acolhe, com quem anda, com quem come e bebe, a quem adverte, a quem defende, porque é assim que o Pai procede.
Num mundo repleto de imagens e pleno de recursos comunicativos, nossos olhos são convocados a olhar. Fica aqui o convite, para que os nossos olhos da fé, também sejam sensíveis para contemplar a Deus que deseja constantemente se comunicar conosco.
Profa. Isabel Orestes Silveira
