A filosofia é coisa inútil, quando não perigosa. Essa é uma crença tão antiga, que ameaça o cultivo filosófico desde a Grécia Antiga. E ainda hoje, aqui e acolá há quem se pergunte pela utilidade da filosofia. De fato, a filosofia não é pragmaticamente útil para descobrir uma vacina ou para construir viadutos e estradas. Entretanto, a filosofia possui um traço que é proveitoso para todos que desejam crescer e provocar crescimento: ela nos ajuda a fazer perguntas de maneira adequada. Filosofar é essencialmente questionar.
Assim, aprender a fazer perguntas, procurando observar bem todos os ângulos, com o devido cuidado, é uma contribuição que a filosofia pode dar nas pequenas e nas grandes questões da vida. Mas um cuidado é necessário: filosofar significa também fazer as perguntas de modo adequado e construtivo. Não é sem razão que filosofia é amizade, gosto pelo conhecimento. Assim, a filosofia não combina com os debates inconvenientes de quem deseja discursar com o objetivo de destruir o interlocutor. Pelo contrário, a conversa filosófica é aquela em que o esclarecimento a respeito de qualquer tema tem a precedência. Não importa de quem é a fala, o que importa é a verdade, o esclarecimento.
Nesse sentido, a filosofia tem uma grande contribuição para as pessoas e para a sociedade. Ela pode ajudar nas pequenas e nas grandes questões. Naturalmente, na medida em que se aprofunda, a atitude filosófica se torna mais complexa, exigindo vocabulário rigoroso e específico, que pode assustar o leitor ou ouvinte. Mas ser obscuro ou ter estilo rebuscado não faz do essencial da filosofia. Por vezes não é possível ser breve, claro, direto, pois a vida, o mundo, as coisas possuem situações e panoramas intrincados, aos quais não podemos responder simplesmente com um sim ou um não, sem refletir. Entretanto, o que a filosofia busca é a clareza, a máxima clareza. Quando a situação não requer um vocabulário específico, falar difícil, é esconder, afastar as pessoas do conhecimento. Discursos assim, de fato, são inúteis. Falas que se pretendem absolutas, argumentações desligadas do contexto, palavrórios enigmáticos de fato são inúteis, quando não danosos, pois são cultivo do engano, da confusão. Mas estão longe de ser filosofia.
Por Pe. Claudiano Avelino dos Santos, ssp
Provincial dos Padres e Irmãos Paulinos