O painel da Capela Fapcom

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Romolo Picoli Ronchetti

Os cristãos, desde muito cedo, viram no edifício onde se reúnem uma imagem da própria comunidade. Nas paredes da Igreja, por essa razão, procuraram sempre representar a “carne” da Igreja, a sua realidade sensível: Corpo de Cristo que prossegue na História sua missão salvífica e glorifica o Pai por seu amor, ao tornar-nos filhos em seu Filho.

Na fachada de vidro da capela da FAPCOM está representa­da a manifestação do Mistério de Deus, escondido antes de todos os séculos e manifesto em Cristo: seu desejo de salvar a humani­dade, de criar novamente a vida de comunhão perdida no pecado de Adão, recapitulando em seu Filho toda a criação. A composi­ção é centralizada na porta de entrada, nela está a Cruz Cósmica, símbolo da universalidade da Salvação. Na lateral da Cruz, está indicada uma ferida, o lado aberto de Cristo na Cruz: de uma ferida nasce Eva, e de uma ferida nasce a Igreja.

Nos Evangelhos Sinóticos, o véu do templo de Jerusalém rasga-se inteiro no momento da Morte de Cristo na Cruz. O véu do templo criava uma separação entre o Santo dos Santos, lugar da presença de Deus, e o restante do templo. Ele é o símbolo do pecado e da morte que separa o homem da presença de Deus; e o homem, por sua vez, não consegue transpor essa separação por suas próprias forças.

Morrendo na cruz, Cristo paga de uma vez por todas a dí­vida do pecado e por isso o véu se rasga: não há mais separação. No Evangelho de João há também um rasgo, mas não é o véu do templo, é o lado de Cristo morto na Cruz:

“Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água.” (João 19, 33-34)

Do lado aberto de Cristo brotam sangue e água, os líquidos da Vida. Os Padres da Igreja viram nessa imagem o nascimento da Igreja, o Corpo de Cristo que na História mantém sua missão salvífica levando a Vida de Comunhão, a Vida de Deus, a todos os homens e mulheres de todos os lugares: a água é a imagem do Batismo que lava e regenera, dotando o batizado de uma nova Vida; o sangue é a imagem da Eucaristia, que alimenta essa nova Vida, lembrando a quem a recebe que a Salvação não é obra do esforço humano, mas do Espírito Santo.

Por essa razão, a ferida do lado de Cristo está na Porta: a entrada para a capela (sinal do Corpo de Cristo que ali se reúne) se dá pela ferida; para se receber a Vida nova, a Vida de Deus, é preciso passar pela morte, é necessário que se perca a vida velha, e é justamente isso que se dá no Batismo, a porta de entrada para a vida eclesial.

O lugar privilegiado para o encontro com Deus é a ferida: na fraqueza, na dor, nas derrotas, enxergamos nossa condição de criatura, fraca e limitada, e vislumbramos que ali há um “rosto” que nos leva adiante e que não depende de nós, é o Cristo que permeou nossa humanidade com sua divindade.

Desse centro brota uma linha que, em movimentos circulares, vai se expandindo para as laterais como as ondas provocadas por uma pedra jogada em um lago calmo: Cristo é o começo, o meio e o fim de toda a obra salvífica de Deus.

Do lado esquerdo, no alto, está uma mão direita. Na iconografia cristã, ela representa o Pai, o Criador que modelou todo o Universo, que resgatou seu povo da escravidão, que enviou seu Filho e o retirou da morte:

“A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direta do Senhor me levantou. Não morrerei, mas ao contrário, viverei
para cantar as grandes obras do Senhor!”
(Salmo 117, 15–17)

Do lado direito, está representado o Espírito Santo, sob a forma corpórea de uma pomba (cf. Mateus 4,16): o Espírito que pairava sobre as águas primordiais (cf. Gênesis 1,2) é também o que gera a Nova Criação: “Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho” (Credo niceno-constantinopolitano).

Como em Pentecostes (cf. Atos 2,1–4), o Espírito Santo continua a agir na História humana recriando a unidade perdida em Babel. As línguas de fogo criam uma linguagem comum em Pentecostes, fazendo com que todos se entendam mutuamente. Isso é possível, pois a vida que o Espírito Santo comunica é a Vida de Deus, ou seja, a Vida de Comunhão, o doar-se. É essa a marca que o Espírito Santo produz nos seguidores de Cristo: o amor pleno, o doar-se como dom ao outro, é o modo de seguir na História vivendo a Vida de Cristo; é assim que se reconhece os que são verdadeiramente de Cristo, os que vivem a Vida de Filhos.

As cores da composição foram escolhidas de forma a manifestar a Vida Nova do Homem, a Recapitulação de todo o criado em Cristo: o centro, iluminado pela Cruz, indica a recriação no oitavo dia com a Ressurreição do Senhor; a Humanidade (ocre, cor do barro) é iluminada e revestida de glória no Cristo Ressuscitado; tons de azul perpassam o coreto indicando o sopro do Espírito Santo, sopro de vida que vivifica a Humanidade; no lado esquerdo, os tons de vermelho (cor do sangue, da vida que pertence a Deus) indicam a presença de Deus, que cria o Cosmo e conduz a História; os tons de verde são indicativos da Natureza, da Casa comum da Humanidade que aguarda a “revelação dos Filhos de Deus” (cf. Romanos 8,19) para, junto com eles, ser libertada da escravidão da corrupção; e por fim o tom violáceo lembra a espera da Vinda do Senhor, que encerrará a História e abrirá as portas da Eternidade:

“O Espírito e a Esposa dizem: ‘Vem!’
Que aquele que ouve diga também: ‘Vem!’
Que o sedento venha, e quem o deseja,
receba gratuitamente água da vida.”
(Apocalipse 22,17).

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