Romolo Picoli Ronchetti
O lugar onde se manifesta, de forma privilegiada, a vida da Igreja é o Espaço celebrativo cristão. Sua constituição essencial é a imagem da Trindade Divina: Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo. É um lugar que não nos pertence (na verdade somos nós que pertencemos a ele, quando nos unimos na ação litúrgica) e por esse motivo, não podemos dispô-lo de qualquer forma, não pode ser um espaço da manifestação do ego de um artista, arquiteto ou de um clérigo.
O espaço litúrgico é o primeiro Sacramento (no sentido agostiniano) que uma pessoa recebe de forma imediata: ele é um sinal visível da graça invisível. A vida que se manifesta nesse espaço e nos é comunicada é pura iniciativa de Deus, a nós cabe apenas o acolhimento.
A beleza que habita a matéria desse espaço não é a realização de uma ideia de perfeição formal, mas simbólica: a transfiguração da matéria torna-a diáfana, e conduz o olhar para uma realidade que está para além do visível e que é ainda mais profunda.
Adentrar a capela da FAPCOM é fazer uma experiência pascal. Lembrando Jonas no ventre do monstro marinho, Cristo no ventre da terra, aqui se entra no ventre da Igreja: sua forma arredondada lembra o ventre materno, e aqui se entra para renascer, para ser gerado e receber a vida de filho.
Os polos litúrgicos, sinais da presença de Cristo, seguem uma unidade de forma e de material. Estão posicionados no espaço de forma a evidenciar sua própria natureza: a Sédia, lugar do presidente da celebração, está centralizada no espaço, como a cabeça no corpo; o Ambão, lugar de onde se proclama o Exultet na grande Vigília do Sábado Santo, está diante do jardim (lugar da Ressurreição), banhado pela luz natural que ilumina toda o espaço, testemunha de que a Palavra de Deus é luz para os nossos passos (cf. Salmo 118); o Altar, em torno do qual está a assembleia e o que preside, reúne em si, no sacrifício e no banquete, todo o Corpo de Cristo, cabeça e membros, pela ação do Espírito Santo e o conduz à Praça de Ouro da Jerusalém Celeste, no Banquete do Cordeiro, onde podemos finalmente dizer: “Pai Nosso”.
A obra de arte que abraça a assembleia ali reunida é uma ajuda aos nossos olhos, para que contemplem aquilo que é vivido na Liturgia: o acolhimento da ação salvífica de Deus que nos torna filhos no Filho.
Ao lado do Ambão, está a Mãe de Deus, aquela que generosamente acolheu a Palavra e nela a Palavra se fez Carne e habitou entre nós (cf. Joao 1,14). Aquele que nem o Céu e o Céu do Céu pôde conter (cf. I Reis 8,27), Ela o teve em seu ventre e dele cuidou com suas mãos. Atrás dela, está representada uma construção, um Templo construído por mãos humanas e incapaz de ser a habitação de Deus: a Virgem Mãe, Rainha dos Apóstolos, é o novo Templo de Deus, não feito por mãos humanas; nela a Eternidade entra no Tempo, o Altíssimo se faz Menino para nos ensinar que Deus é um Pai e somente quando nos tornamos filhos é que podemos realmente conhecê-lo.
O Cristo Mestre está no centro do mural e alinhado com a imagem da Porta: Ele é o centro e o ápice da Revelação de Deus e da História Salvífica, como também a Porta de acesso à Vida Nova. Não basta apenas ouvir sua Palavra, é necessário fazer parte de seu Corpo e tornar-se filho: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14,6).
São Paulo, o grande evangelizador e uma das colunas da Igreja nascente, está representado ao lado de Cristo e, tendo suas cartas em uma das mãos, aponta para o Cristo. Gesto significativo que ele realiza com a própria vida desde o momento de sua experiência com o Ressuscitado, que o faz passar de perseguidor a perseguido.
A Cruz, ligeiramente atrás do Apóstolo, é um dos grandes temas tratado seriamente por São Paulo em seus escritos e que constantemente devemos retomar para iluminar nossa experiência na fé: é no escândalo” e “loucura” da cruz (cf. I Cor 1,18-23), na manifestação da falência e da fraqueza, que se mostra o infinito Amor de Deus, salvando e elevando a Humanidade decaída no Mistério Pascal de seu Filho.
Em um tempo no qual muitos “salvadores” e “caminhos alternativos” de salvação se apresentam, é salutar relembrarmos que nossa reconciliação com Deus já foi realizada na Cruz de Cristo; é nele que se manifesta e se realiza seu plano salvífico, a nós cabe apenas a atitude de acolhida dessa Salvação.
Por fim, é possível notar na composição que uma leve brisa movimenta as vestes: é a presença do Espírito Santo, sopro divino nas narinas de Adão (cf. Gênesis 2,7), sinal da presença de Deus diante de Elias (cf. I Reis 19,10-15), vento que sopra onde quer (cf. João 3,8) e põe tudo em movimento, em constante renovação. É este o Espírito que anima e conduz a Igreja na História! Que Ele vivifique e torne eficaz tudo o que foi realizado nessa capela, para que sejam sementes de Eternidade lançadas nos corações daqueles que adentrarem este espaço de comunhão, onde o Amor mostra a sua Face.