Paulo, para aqueles que levam em consideração os valores do cristianismo, é um santo. Para aqueles que não são de tradição cristã, é no mínimo um homem de cultura inquestionável, ou quem sabe um ilustre desconhecido. Apesar de qualquer coisa, sua sabedoria é algo que qualquer leitor, mesmo os desatentos, são capazes de perceber e confirmar. Ele é, por assim dizer, um homem que soube aproveitar muito bem todas as oportunidades que lhe foram dadas.
Ele, mais do que ninguém, podia dizer que tinha tudo em suas mãos. Cidadão romano reconhecido, filho de uma tradição milenar, o judaísmo, influente na sociedade, temido por seus contemporâneos, homem de posses, relações variadas e privilegiadas. Porém, nada do que ele pensava ter, ficou em suas mãos, nada do que ele esperava da vida se confirmou, ao menos, não em plenitude. O seu encontro com o Cristo o desinstalou, o fez questionar todas as suas seguranças de então.
Diz o relato bíblico: “Chegando a Jerusalém, Saulo tentava juntar-se aos discípulos. Todos, porém tinham medo dele, pois não acreditavam que fosse discípulo. Então Barnabé o tomou consigo e o levou até os apóstolos. E lhes contou como Saulo no caminho tinha visto o Senhor, que falou com ele, e como em Damasco ele mesmo havia proclamado com franqueza o nome de Jesus.” (At 9,26-27).
Faça um breve e simples exercício mental. Coloque-se no lugar de Paulo, tente na medida do possível imaginar a sua situação, o seu constrangimento, sua angústia. Uma verdadeira reviravolta em sua vida foi o que a fé lhe causou. Quem nunca passou por uma mudança radical como essa, fique atento, pois ela pode estar bem próxima. Mais cedo ou mais tarde todos nós sentiremos a mão de Deus se manifestar, às vezes sua presença é sutil, outras é intensa.
Para quem nunca leu ou escutou sobre a vida de Paulo, é suficiente saber que existiu um grupo de pessoas, que seguindo a Cristo, atraíram para si a perseguição dos poderosos da época em que o império Romano estava no auge. Eis a razão pela qual muitos cristãos serem perseguidos e inclusive mortos. Paulo era um desses que convictamente perseguia os cristãos, ajudava com ímpeto às autoridades judaicas a identificarem aqueles que entravam no “Caminho”, como era chamado o grupo dos primeiros cristãos e os obrigava a negar a fé sob pena de morte.
É, pois, a caminho de Damasco que Paulo é surpreendido por duas situações extremamente desconcertantes. A primeira – ele, homem orgulhoso de sua força, encontra-se caído, sinal de fraqueza e submissão. Escuta a voz de um desconhecido e este se apresenta como aquele o qual Paulo rejeita. Uma segunda ainda – Paulo tão cheio de certezas, parece vacilar, parece não ter mais chão onde firmar-se. Ele é, pois, instigado por sua própria consciência a olhar para dentro de si e questionar-se sobre sua própria identidade.
Paulo necessita saber quem é. Paulo já não entende mais o que ele próprio faz. Paulo está permeado por dúvidas. Nesse momento muito particular de sua existência, encontra-se com sua insuficiência. Descobre que tudo o que acreditava não estava errado, mas incompleto. A sua insuficiência o põe diante de Cristo e do seu “Caminho”. Paulo é, pois, impulsionado por suas fraquezas, elas não o paralisaram, não o fazem um homem impotente, ao contrário sente-se chamado a conquistar o mundo para aquele que o conquistou. Aceita sua insuficiência, aceita que não possui respostas para tudo, como hoje nós também não possuímos. Descobrimos, também nós que somos necessitados de muitas coisas. Na maioria das vezes somos necessitados de uma verdade que nos oriente, de algo que nos complete, ou simplesmente de que as coisas deem certo.
Descubra suas necessidades. Faça as perguntas certas. Onde quero chegar? Quais são as perguntas que me fazem refletir? O que motiva o meu dia? Quais as razões para levantar-me todas as manhãs? Não se pergunte se existe sentido. Pergunte-se qual o seu sentido, o que é que completa o seu vazio, a sua insuficiência. Um caminho que só você pode trilhar. Paulo trilhou o caminho da incerteza, foi forte no momento de grande fraqueza, pois se permitiu ser vulnerável, permitiu-se arriscar.
Quem está cheio de si, isto é, pleno, não é capaz de acolher mais nada. Na falta podemos sempre acolher um pouco mais de vida, que sempre vem solícita nos brindar com realidades maravilhosas. Quem sente-se fraco, ou quem simplesmente aceita essa fraqueza, encontra-se com a beleza da vulnerabilidade, que sempre nos abre para sermos mais ousados e felizes, pois na aventura de arriscar, podemos construir grandes coisas, temos a oportunidade de perceber que por menores que sejam nossas conquistas elas são grandiosas, são lucro. Por mais fracos que sejamos, quando somos fracos é então que somos fortes. (cf. 1Cor 12,10).
Por Ednoel Ribeiro
Postulante Paulino