Por Vitória Estrela e Ana Luísa da Silva
(Comitê de eventos do curso de Jornalismo)
Na última quinta-feira (26), profissionais da fotografia que atuaram na cobertura de conflitos sociais na América Latina compartilharam experiências de campo com alunos e professores durante a Mostra de Direitos Humanos, realizada anualmente pela FAPCOM (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação). Neste ano, o evento contou com a participação dos fotojornalistas Sérgio Silva e Alex Silveira, que perderam a visão durante conflitos no Brasil, além da professora e artista plástica Vivian Villarroel.
Fotógrafa de manifestações da Revolta Social do Chile em 2019, Villarroel preferiu destacar outras artistas, como Nicole Kramm, que perdeu 80% da visão do olho esquerdo ao ser atingida pela bala de um policial nos protestos que sequer estava participando, e a atriz Susana Hidalgo, responsável por uma das fotos que se tornou símbolo da Revolta. Para a professora, a importância da fotografia é trazer discussões para o debate público. “Na medida que a gente vai discutir sobre ela, o poder que ela tem (de enriquecer o debate) vai fazer efeito”, comentou.
Vítima de violência policial em protestos, Sérgio Silva deu detalhes sobre a noite em que perdeu a visão de um olho enquanto fotografava o Movimento Passe Livre em 2013. Atingido por uma bala de borracha da polícia militar, o profissional não teve ressarcimento do Estado, mas isso não o fez desistir da fotografia. “Eu voltei porque percebi que a fotografia era a minha voz; o meu movimento de manifestação política”, declarou. Após o episódio, o fotojornalista começou o projeto Piratas Urbanos, que retrata diferentes pessoas usando um tapa-olho, símbolo da visão monocular.
Alex Silveira também compartilhou o episódio que o fez perder parte da visão durante uma manifestação em 2000, destacando como essa experiência o levou a se desafiar e viver na Amazônia, onde ficou por 15 anos. O fotojornalista Alex Silveira foi indenizado pelo Estado por danos morais e estéticos, além de despesas médicas. Questionado sobre o exercício de profissionais que atuam na pauta de Direitos Humanos, ele reforçou a importância da empatia. “Você se envolver nisso de uma forma que, pelo menos instantaneamente, se coloca no lugar do outro”, resumiu, ao comentar que essa máxima deve se mote de todos os direitos sociais, para que nenhuma causa seja minimizada.
GUERRA CIVIL – Durante o evento foi exibido o filme Guerra Civil, dirigido por Alex Garland. A obra conta a história de um grupo de fotojornalistas que tentam sobreviver enquanto registram uma guerra fictícia nos Estados Unidos. “Sugerimos esse filme porque, para nós, que consumimos notícia, a imagem é sempre muito importante”, conta o professor de Filosofia Carlos Motta. “O filme retrata isso: por dentro do processo de jornalismo de guerra. Os perrengues, os dramas e os desafios desse profissional (o fotojornalista).”
A Mostra de Direitos Humanos ainda exibiu a intervenção artística de um vídeo legendado com o poema O Sonho, de Clarice Lispector. A interpretação foi feita na linguagem de sinais pelos alunos de Audiovisual da professora de Libras e coordenadora do Núcleo de Inclusão da instituição, Elaine Gomes Vilela.
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