A arte pode ser compreendida como um ato de manifestação artística e resistência que está enraizada em todos os cenários da sociedade, seja na política, economia, saúde ou cultura. O fazer arte se concretiza em uma habilidade que qualquer pessoa pode desenvolver ao longo do tempo, com o propósito de expressar-se para além da subjetividade humana. Nesse sentido, após dois anos de Pandemia, o evento FiloCine de 2022, reúne diálogos entre a filosofia e o cinema, que retornaram com o evento presencialmente na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação na última quinta-feira (27) de outubro. Contudo, o evento foi marcado pelo documentário “Diga o que quiser! Eu vou ser feliz à beça!”, dirigido pelo cineasta Renato Candido.
A narrativa conta a celebração da vida de Daniel Marques, um jovem negro da Periferia da Zona Leste de São Paulo, que busca enaltecer a figura da pessoa negra na sociedade, problematizando questões étnicas-raciais, decolonização, direitos humanos, sensibilidade, empatia, sonhos, amizade, espiritualidade, além do resgate da memória afetiva memória da ancestralidade da cultura afro-brasileira.
No decorrer do documentário, ficou evidente a forte presença da trajetória de vida de Daniel, que por meio da arte (poemas, música, dança, teatro), pode ser um ativista de causas minorizadas, além de um empreendedor social que soube lutar pelos Direitos da Comunidade Negra, LGBTQIA+, colocando-se sempre à frente das incertezas, dignidade humana, resistência e equidade. Consequentemente, mesmo que no seu interior, o menino da Periferia transparência com um brilho no olhar e um sorriso que emanava por onde passava, por trás, havia uma máscara, máscara essa que foi capaz de fazê-lo tirar a própria vida, por não suportar na sua essência, o medo, o sofrimento, a falta de dignidade e incentivo, a violência, o julgamento, as incertezas do futuro, até a esperança que tanto sonhava se esvaiu dia após dia.
Por fim, muito embora o papel da representação do negro na sociedade ainda esteja caminhando em passos lentos, diante a decolonialização no século XXI e as avenças sobre os direitos humanos – sendo uma questão indispensável para a comunidade negra, ainda hoje é necessário mais protagonismo e equidade, seja nos movimentos artisticos sociais ou em cargos de poder em empresas que valorizam a pessoa negra, reconhecendo suas virtudes e valores, sem a diminuição da moralidade ou do julgamento da capacidade – seja ela física ou intelectual. Com isso, o documentário é a própria personificação do semear e cultivar a cultura e a ancestralidade dos povos negros originários no presente para ressignificar um esperançar em um futuro próximo.
Assim como eu me senti representada e tocada, espero que você também possa sentir-se tocado, acreditando em um amanhã melhor e mais justo para todos.
Por Victória Rosário
28/10/2022